Sobre o Grupo Veredas: Imigração e Psicanálise

Apresentamos um breve histórico, o contexto clínico e epistemológico de suas atividades, os objetivos e a metodologia da extensão universitária Grupo Veredas: Imigração e Psicanálise, desenvolvida no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Esse projeto está integrado à proposta ético-política do Laboratório Psicanálise e Sociedade, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), tendo sido por muitos anos vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisa Psicanálise e Política do Programa de Pós-graduação de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

A Extensão Universitária, especialmente na psicanálise, em que tanto a formação como a pesquisa são referidas às práticas clínicas, tem ocupado lugar expressivo no nosso trabalho na Universidade.
O Grupo Veredas: Imigração e Psicanálise visa alcançar a experiência de sujeitos afetados diretamente por fatos sociais e políticos que levam à exclusão, segregação e consequente emigração ou exílio do país de origem e a busca de refúgio em país estrangeiro. Nosso objetivo principal é estabelecer espaços de intervenção com essa população, buscando elaborações singulares – individuais e grupais -, apontando as diferentes possibilidades de re-constituição de laços sociais, e favorecendo os vínculos afetivos e de trabalho, de modo a possibilitar revisar e elaborar formas de viver os “novos contextos.

1. BREVE histórico: clínica, pesquisa e formação

O projeto teve seu início em 2004, a partir do pós-doutorado “História, Clínica e a Cultura em Psicanálise”, de Taeco Toma Carignato. Trabalhamos com várias instituições voltadas ao acolhimento e, no decorrer dos anos, solidificamos uma parceria com a Casa do Migrante, albergue que acolhe migrantes do Brasil, imigrantes do Cone Sul e africanos que pleiteiam a condição de refugiados. É uma instituição gerenciada por Padres Scalabrinianos, voltados para a temática da imigração, e que atuam em parceria com a Pastoral do Migrante, na cidade de São Paulo.

Inicialmente inscrito no Fomento às Iniciativas de Cultura e Extensão (antigo Fundo de Cultura e Extensão Universitária da USP inicialmente como “Migração e Cultura: Experiências de Atendimento a pessoas em Situações de Vulnerabilidade Psíquica e Social”, o projeto tem- se desdobrado em vários aspectos da questão. Nomeado posteriormente como Migração e Cultura: Intervenções Psicanalíticas Clínico-Políticas com Migrantes, Imigrantes e Refugiados”, em 2011-2012 seguiu como Migrantes, Imigrantes e Refugiados: Vulnerabilidade e Laço Social”. Entre 2013 e 2016 o projeto foi denominado de Imigrantes e Refugiados: Praticas Grupais com Crianças, Adolescentes e Adultos”.

Desde 2016 temos ampliado consideravelmente os objetivos do projeto. Além da parceria com a Casa do Migrante, fazemos levantamentos de informações sobre a viabilização e operação de um serviço de atendimento e intervenção junto a imigrantes e à população em geral, aliado a atividades de integração com os estudantes estrangeiros da Universidade. A partir de 2016 passamos a desenvolver a proposta de Veredas Convida, atividade de formação para o público específico, mas estendido a outros interessados. Concretiza-se em evento mensal sobre o tema, em local público, com temas referentes à imigração e ao refúgio. Inclui palestras, depoimentos ou apresentações de movimentos políticos, musicais, pró-moradia, entre outros, sobre temas relacionados à imigração e ao refúgio, para o público geral, no restaurante Al Janiah, um espaço cultural organizado por imigrantes na cidade de São Paulo.

O eixo das pesquisas que desenvolvemos está no mal-estar na transmissão (de valores e da história) e no laço social (constituição e destituição) na contemporaneidade. Temos pesquisado e produzido particularmente sobre as expressões da violência; os efeitos e as dimensões coletivas do trauma, do desamparo e da violação de direitos; as modalidades de resistência e enfrentamento dos sujeitos em situações de violência/vulnerabilidade; a construção/transformação do laço social na contemporaneidade; imigração e migração, e o desenvolvimento de práticas clínico-políticas de intervenção. Os projetos de pesquisa são articulados a dispositivos de pesquisa-intervenção psicanalítica com populações em situação de vulnerabilidade social. Para indicar nossa posição metodológica, citamos Rosa e Domingues que afirmam que no caso da contribuição da psicanálise ao estudo do campo social e político, não lhe cabe a pretensão de esgotar, por si só, o fenômeno: cabe-lhe esclarecer uma parcela dos seus aspectos, ainda que uma parcela fundamental. Sem pretensão de substituir a análise sociológica, cabe à psicanálise incidir sobre o que escapa a essa análise, isto é, sobre a dimensão inconsciente presente nas práticas sociais1.

Constituímos uma equipe sólida e comprometida com as intervenções clínico-políticas contando com, além dos coordenadores do projeto, supervisores e estagiários da Graduação e Pós-Graduação da PUC-SP e da USP. As supervisões e reuniões clínicas, junto com eventos, entrevistas e cursos, têm propiciado formação na área. A articulação com pesquisa é forte. Temos nos tornado referência, através da prática transformada em teses, dissertações, artigos e trabalhos apresentados na área de atendimento psicanalítico fora dos enquadres tradicionais, em situações de precariedade e urgência.

Recém-Chegados e Cenas no Espaço Institucional da Casa do Migrante

O objetivo da Casa do Migrante é acolher migrantes brasileiros recém-chegados; imigrantes e refugiados, indivíduos envolvidos no drama mundial da mobilidade humana, sem distinção de sexo, etnia, cor, credo, nacionalidade ou qualquer outra forma passível de discriminação. A nomeação “Casa” está referenciada na filosofia de trabalho da Missão Scalabriniana que buscar propiciar um “ambiente familiar”, no qual as pessoas possam se relacionar e assumir suas responsabilidades perante o próximo. A Casa tem 100 leitos distribuídos num edifício que antigamente funcionava como convento, localizado ao lado da Pastoral do Migrante, onde uma equipe jurídica assiste aos migrantes e imigrantes.

Na Casa estão presentes pessoas de todos os lugares do mundo, diferentes culturas, línguas, diversas religiões e credos. Em um grupo tão heterogêneo é difícil estabelecer qualquer tipo de unidade, exceto pelo fato de estarem em condições precárias. São pessoas com vivências turbulentas e violentas: imigrantes, particularmente os latino-americanos, que se perdem nos percalços do deslocamento; migrantes brasileiros que percorrem o país em busca de trabalho ou simplesmente vagueiam, porque não conseguem ou não querem fixar-se em contextos familiares ou comunitários; e refugiados, banidos de seus países pela violência e pela miséria. Na situação crítica em que estão nomeiam necessidades muito claras, que podemos ordenar desta forma: a legalização de sua permanência no país, trabalho, aprender a nova língua, moradia e, como dizem, casamento. Segundo dados do website da Casa do Migrante, os albergados foram se modificando em termos de perfil: aos migrantes internos, que até o ano de 1997 representavam 93% dos que passavam pelo albergue, atualmente agregam-se, numa tendência crescente, os imigrantes, sobretudo dos Países Andinos e do Cone Sul e, mais recentemente, africanos, estes últimos pleiteando a condição de refugiados ─ hoje a presença de imigrantes e/ou refugiados é superior a 50%.

2. Imigrantes e Refugiados: Sem documentos em busca de refúgio ou asilo

Muitos dos albergados da Casa chegam sem documentos e buscam por refúgio o qual, no entanto, tem regras muito específicas que não abrangem muitos deles. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR (Ag, que adotou a Convenção sobre o Estatuto de Refugiados de 1951, expandida pelo Protocolo de 1967, define que um refugiado é alguém que “temendo ser perseguido por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país”. Também pode ser concedido o status de refugiado ao cidadão estrangeiro que, devido a uma grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar o seu país. A decisão pelo reconhecimento do status de refugiado é de competência do governo brasileiro, por meio do CONARE (Comitê Nacional para Refugiados). Aqueles que não forem considerados refugiados e não forem reconhecidos como necessitando de nenhuma outra forma de proteção internacional poderão ser repatriados aos seus países de origem. Durante deslocamentos em massa de refugiados (geralmente como resultado de conflitos ou violência generalizada, em contraste à perseguição individual), não há capacidade para conduzir entrevistas de asilo individuais para todos que cruzarem a fronteira. Tais grupos são frequentemente declarados refugiados “prima facie”.

Por ser o refúgio um processo longo, muitos refugiados passam a pedir asilo. Segundo o ACNUR, o requerente de asilo é alguém que afirma ser um refugiado, mas que ainda não teve seu pedido avaliado definitivamente. Os sistemas nacionais de asilo existem para determinar quais requerentes de asilo realmente se qualificam para proteção internacional.

O “refúgio” é o caso de alguns dos albergados da Casa, principalmente os refugiados dos conflitos na África, causados por guerras étnicas e nacionalistas nos países africanos. Além destes, são frequentes os fugidos da guerra civil na Colômbia. Os refugiados recebem um tratamento diferenciado na Casa, que se torna um status almejado por muitos de seus migrantes.

Estrangeiros na Própria Pátria

Há um número sempre expressivo de migrantes na Casa, vindos de outros estados e de condições de muita pobreza. Chama a atenção a situação cultural precária e o fato de que têm a formação escolar e cultural distantes de sua realidade. Também não se ancoram nas suas tradições e história. A depressão e o alcoolismo são recorrentes, junto com o relato de fracassos dos sonhos profissionais e amorosos.

Sua precariedade os faz, nesse contexto, ansiar pelo status de imigrante, principalmente de refugiado, tal como se revela no incidente relatado por um estagiário: “No domingo das eleições, Júlio desceu atrasado para o café da manhã. A cozinheira se recusou a servi-lo, alegando estar de saída para votar. Júlio discutiu com a moça. Provocou-a dizendo que “teria de pintar o rosto de preto para ser atendido”. Em uma clara alusão aos africanos, o brasileiro diz de sua condição de desterrado em sua própria pátria. Os brasileiros contrastam com os abrigados vindos da África, que costumam falar com empolgação sobre seu país, sua cultura.

Crianças Estrangeiras e suas Mães

A Casa tem recebido muitas mães sozinhas com seus bebês ou crianças pequenas, além de algumas famílias. Temos desenvolvido intervenções com essas pessoas. A criança atravessa a fronteira da língua e a estranheza dos diferentes traços físicos e, através da dimensão lúdica, a interação entre as pessoas da Casa facilitada. Por outro lado, conflitos culturais logo traduzidos por preconceitos ocorrem frente ao modo de conceber os cuidados com as crianças, qualificando como descuido ou indiferença as diferenças culturais, ponto trabalhado por nossa equipe.

Línguas e Culturas

A convivência com muitas culturas, religiões, línguas e valores no espaço físico da Casa nem sempre é tranquila, por vezes desencadeando conflitos, brigas e desentendimentos que geram expulsões ou abandono do lugar, pois ferem aqueles que são criticados por ser modo de existir.

Alguns dos refugiados concluíram o ensino superior, conhecem a situação política do país, falam com orgulho de sua cultura e têm muito interesse em aprender a língua do país que os abriga. Outros têm dificuldades na adaptação às rotinas e sofrem choques religiosos e culturais. Desenvolvemos estratégias para criar pontos comuns entre os abrigados, desfocando as diferenças, tais como o grupo de recém-chegados, oficinas de português e o projeto Costurando caminhos para a cidade.

Impasses e direções do sujeito e o campo político

Fizemos uma breve e incompleta descrição da situação dos imigrantes, migrantes e refugiados que conhecemos na casa do Migrante. Nossa experiência com eles permitiu-nos testemunhar, acompanhar e intervir nos diferentes modos de lidar com os impasses desses sujeitos em seu laço social.

Muitos modos ou soluções frente ao laço social são construídos e gestados pelos migrantes. Vemos mulheres que encontram na maternidade de um filho brasileiro o modo de legalização de si mesmas e da família e outras que conseguem recusar posições de vítimas da violência de seus maridos ancoradas na nova inserção cultural. Alguns refugiados desenvolvem novas trajetórias de trabalho, dedicados aos cuidados e assistência a outros imigrantes, ou iniciando novas aptidões, outros fazem parcerias para acomodações conjuntas. Em sua maioria, dedicam-se aos trabalhos de comércio ambulante. O casamento com brasileira ou brasileiro é visto como uma saída interessante para resgatar o vínculo e inserir-se na nova terra. Enfim, criam-se invenções ou recuos, caminhos possíveis para alinhavar a nova existência à dimensão fantasmática que situa o sujeito e seu lugar de fala.

No entanto, pudemos distinguir alguns processos que suspendem as elaborações dos deslocamentos e sofrimentos e exigem práticas específicas. Ressaltamos a angústia, culpa e superação das violências de alguns dos abrigados que atendemos que vêm de situações de violência aguda em seu país de origem. Exemplifico com Isac (nome fictício) que, de volta ao lar, com o irmão, africanos no Congo, encontraram sua casa com os pais e outros irmãos incendiada por rebeldes. Em pânico fogem, cada um em uma direção, para garantir chances de sobrevivência para pelo menos um deles. Isac pega um navio e vem parar no Brasil. Tem insônia e crises de angústia com as imagens da casa incendiada. Considera que seu maior sofrimento é não saber o destino ou paradeiro do irmão e não ter como ou onde procurá-lo. Outro exemplo é Hassab (nome fictício) que quer morrer e tenta se matar. Depois de assassinados seus pais, por questões políticas em Angola, foge e, ao chegar ao Brasil, tem a notícia que as duas irmãs que ficaram no país foram também assassinadas.
Essas situações remetem à angústia intensa frente à perda de laços afetivos fundamentais à segurança subjetiva das pessoas, perda esta muitas vezes relacionada à culpa do sobrevivente, experiência descrita sobre os sobreviventes do holocausto. Além das dores e humilhações às quais são expostos, sobrevêm questões sobre sua própria ética e culpa relativa ao desfecho dos seus familiares, com dúvidas sobre sua possibilidade de sobreviver enquanto os outros morreram. Crises de angústia, desejo de morte e tentativas de suicídio nos demandam intervenções urgentes com esses casos. Nossos manejos visam relançar o sujeito em sua trajetória e história. Como resultado, pudemos testemunhar como alguns passavam a dizer “não posso morrer” seja para testemunhar o ocorrido, seja para dar andamento à trajetória da família.

Outros casos remetem-nos a abalos psíquicos estruturais e impossibilidades de reorganização. A questão diagnóstica nesses casos não pode ser fechada supondo-se haver estrutura previamente psicótica que explicasse as dificuldades desses sujeitos, sob pena de desconsideração dos efeitos disruptivos das situações traumáticas.
Destacamos também outros casos que transformam o exílio forçado pela violência, abandono ou miséria em uma errância sem fim. Algumas pessoas chegam à Casa do Migrante intensificando e eternizando a sua condição de “estar de passagem”, ou seja, sem intenção de se fixar em São Paulo ou outro lugar. Um estagiário relata a conversa com um imigrante sul-americano que dizia estar de passagem, que viajaria para inúmeros países, pois trabalhava como vendedor itinerante de artefatos que ele mesmo produz. Escutando essa afirmação, um refugiado comentou que não sabia como um itinerante conseguiria viajar tantos países sem conhecer sua língua e que o achava muito corajoso. Achava-se incapaz de tal aventura. O vendedor respondeu que vivia de sua arte e que não precisava dominar a língua do país. O diálogo causou estranheza na medida em que o termo “coragem” surgiu de quem fugiu de um ambiente de guerra, da morte, para vir para o Brasil.

Nesses casos, o corte e abalo provocado pela ruptura dos laços são repetidos e passam a ser contados pelo sujeito como um modo de vida – os refugiados chegam e logo pensam no próximo destino, sempre transitório, independendo da idade, de projetos de vida, de laços com os outros. Ao menor sinal de angústia deslocam-se novamente, sem ponto de báscula, e repetem o movimento a que foram inicialmente lançados de modo involuntário.

3. Psicanálise, sociedade e política: contexto clínico e epistemológico

O Projeto de Extensão tem sua base conceitual e clínica nos fundamentos, ética e clínica psicanalíticos, mais particularmente na articulação entre psicanálise, sociedade e política. Faz parte das atividades do Laboratório Psicanálise e Sociedade do IP-USP e do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Curso de Pós-graduação de Psicologia Social da PUC-SP. Nestes, psicanálise, sociedade e política são termos que relançam e explicitam a articulação do sujeito com o desejo, o gozo e a dimensão dos laços sociais como laços discursivos. A perspectiva do inconsciente como discurso do Outro, tal como cunhado por J. Lacan ganha destaque em seus desdobramentos – o inconsciente é a história, a história da criança na família, da família no campo sócio-político; o inconsciente é o político.

Na perspectiva psicanalítica, os laços sociais remetem à condição constitutiva do homem e da civilização, condição esta que inaugura a entrada do homem na linguagem e na cultura e que o insere simultaneamente no jogo relacional, afetivo, libidinal e também no jogo político, jurídico. Os laços sociais têm seu fundamento na linguagem, mas, a partir deste ponto, materializam-se nos modos de relação em um dado tempo e lugar, pautando a construção da história de cada um, inserida no campo discursivo de seu tempo, e caracterizando os laços sociais como laços discursivos. Os discursos que circulam num dado tempo indicam os modos de pertencimento possíveis àqueles sujeitos e procuram, ideologicamente, equiparar-se ao campo simbólico da cultura e da linguagem. Dessa forma, impasses no laço social que dizem respeito ao campo da política podem desarticular os sujeitos em sua relação com a linguagem. É nessa medida que, nos casos em questão, na revisão e rememoração de histórias e acidentes de vida, é possível a elaboração do luto do exílio, a partir do qual imigrantes, migrantes, refugiados e “retornados” podem vir a constituir vínculos com a cidade.
A problematização da articulação entre sujeitos e enlaçamento social lança-nos na perspectiva da psicanálise implicada, ou seja, aquela em que as teorizações sobre os modos como são capturados e enredados em seu desejo e gozo na máquina do poder, de modo a terem suspenso seu lugar discursivo, são desenvolvidas a partir da clínica, particularmente, da escuta daqueles situados precariamente no campo social. Essa articulação visa evidenciar os efeitos, por vezes trágicos, do modo em que o discurso social e político, carregado de interesses e sede de poder, se traveste de discurso do Outro (campo da linguagem) para capturar o sujeito em suas malhas – seja na constituição subjetiva, seja nas circunstâncias de destituição subjetiva. O discurso social contemporâneo se trasveste como um discurso hegemônico, referido à lei do mercado, aparentando consistência e a-historicidade que obscurecem seus interesses na manutenção sócio-política. Visa confundir o impossível (relação com a morte e com o desejo como falta) com o proibido (relação com as leis sociais), para governar o sujeito e sua trajetória na cena familiar, social e política e para incidir sobre seu luto, seu enlace em novos grupos, sua reorganização subjetiva, seu embate com as leis. A direção de nossa escuta visa a que o sujeito não se equivoque nesse artifício tomando esse discurso como um campo simbólico que recobre o real, sem espaço para o enigma. É fundamental escutar e incidir na separação entre o enredamento da alienação estrutural ao discurso como linguagem e as artimanhas ideológicas do poder. Esse enredamento nos processos de constituição e de destituição do sujeito pode ser elucidado pela via da historização dos laços sociais em dados grupos sociais, o que se dá pelo resgate da memória.

Prática psicanalítica clínico-política e clínica do traumático

Vamos destacar brevemente as coordenadas da clínica do traumático e as práticas clínico-políticas desenvolvidas no trabalho com esses sujeitos. Nossa prática psicanalítica tem elegido escutar as vidas secas – pessoas vivendo em situação de miserabilidade, adolescentes em conflito com a lei e pessoas que passam por experiências de desenraizamento (imigrantes, migrantes não documentados, refugiados). Entendemos que o trabalho com sujeitos afetados diretamente pelas situações sociais críticas permite desvendar as artimanhas do poder e o enredamento do sujeito pela via da lei, desejo e gozo. Como decorrência, permite construir práticas clínico-políticas, ou seja, dispositivos e estratégias de resistência aos processos de alienação social.
Formulamos as bases para clínica do traumático a partir dos casos em que o sujeito não construiu ainda uma resposta metafórica, um sintoma, através do qual possa falar de seu sofrimento e endereçar uma demanda. Pudemos identificar nos sujeitos que se confrontam com a face obscena do Outro uma perda do laço identificatório com o semelhante, um abalo narcísico que o lança à angústia e ao desamparo discursivo que desarticulam sua ficção fantasmática e promovem um sem-lugar no discurso, impossibilitando-os do contorno simbólico do sintoma e da construção de uma demanda.

O excesso de consistência do acontecimento – ou dito de outro modo, o embate com a violência obscena do Outro – lança o sujeito na condição de “não poder não recordar” (modo como Agamben descreve a condição de pessoas nos campos de concentração). Trata-se de um impedimento do esquecimento, do recalque necessário para separar-se do acontecimento. A angústia surge justamente quando não há distância entre a demanda inconsciente e a resposta do Outro, quando se perde a distância entre o enunciado e a enunciação. A angústia, nesses casos, apresenta-se não como manifestação sintomática (caso da angústia neurótica em Freud), tampouco como fuga, mas como um tempo no qual o sujeito custa a se localizar e que, por essa razão, é vinculado ao sentimento de estranheza, o Unheimlich freudiano.

Esse tempo no qual o sujeito custa a se localizar tem efeitos em sua posição subjetiva e no laço social. Tais condições se traduzem num silenciamento: silenciado sob o signo da morte, o sujeito é fadado a vagar sem pouso, sendo-lhe vedada a experiência compartilhada, a posição de passador da cultura.

Em situações de violência pode haver a suspensão do luto e uma posição melancólica em que o sujeito não nomeia a dor, que não passa. E, muitas vezes, no lugar do significante que possibilite apresentar a ausência do Outro sob um véu, apresentam-se imagens ao modo da loucura individual ou coletiva.
Esse silêncio, a dor e a falta de uma demanda são as vicissitudes do psicanalista nessa clínica. Se não é demanda, se a dor é presumida pelos fatos e pelo vazio do silencio, o que sustenta a posição do analista? Que direção dar a essa clínica?

Uma direção possível de tratamento: ética e política

Para trabalhar a relação trauma, luto, experiência e transmissão, formulamos uma direção possível de tratamento que incide na direção da transformação do trauma em experiência compartilhada e na construção da posição de testemunha, transmissor da cultura. Além disso, faz-se necessário utilizar práticas que levem em consideração as precondições sócio-políticas e subjetivas necessárias para a elaboração do luto, para fazer valer a dimensão do desejo, a melhor defesa contra o gozo mortífero.

Essas estratégias visam restituir um campo mínimo de significantes, referidos ao campo do Outro, que possam circular – em outros termos, visam resgatar o poder da palavra de presentificar experiências que restaurem o valor daquele sujeito, além de situá-lo frente às condições históricas e sociais que geraram as situações de sofrimento. Isso possibilita ao sujeito localizar-se e poder dar valor e sentido à sua experiência de dor, articulando um apelo que o retire do silenciamento, pois existe uma diferença fundamental entre o silêncio mortífero e o silêncio sintomático. Sintomatizar o silêncio – cavado na angústia, no instante perpétuo, no estado melancólico – é a isso que apontamos nesse tipo de intervenções clínicas.
Como abordar a questão da angústia e do luto tanto considerando a produção sócio-política da angústia, como o impedimento político do processamento subjetivo das situações traumáticas?

Sob o efeito destrutivo de situações traumáticas os sujeitos podem:

  • Desarticular sua ficção fantasmática
  • Perder o laço identificatório dos semelhantes para consigo – estes tendem a recuar diante do terror – com o que perdem a sua solidariedade e são lançados fora da política.

Tais condições promovem, como dissemos, um sem-lugar no discurso, impossibilitando os sujeitos de construir uma demanda – o que se traduz num silenciamento, sob o signo da solidão e da morte.
O que está em jogo é a potência enlouquecedora do traumático, pois, segundo Pujó, o encontro com o mesmo, em repetição sem maior deslocamento ou metaforização, desnuda a incoercível resistência do trauma à sua tramitação. As condições de degradação põem em destaque a necessidade vital de velamento do caráter mortificante do impacto pulsional, ou seja, “a necessidade de faltar ao Outro ali onde o sujeito experimenta-se gozado”.

Nas guerras, com ou sem nome, trava-se outra luta entre a resistência do sujeito e a resistência do trauma e sua insistência em enlouquecer o sujeito de sua completude. Abordaremos as intervenções que podem criar condições de alterações do campo simbólico – subjetivo, social e político. Ressaltamos que a psicanálise pode comparecer com elementos para favorecer modos de resistência à instrumentalização social do gozo, à manipulação da vida e da morte no campo social – um terrorismo do ponto de vista do poder soberano.

Do trauma à experiência compartilhada

Isac viu-se diante de um impasse que exigiu uma resposta em face do horror que a ele se apresentou: salvou sua vida com a fuga do país. A escolha de Isac o precipitou em um para aquém da fantasia ou da culpa. Paralisado na perenidade traumática, fica sem lugar de onde poder falar. Parte do país, mas não se divide, não se separa. No silêncio mortífero do exílio fica reduzido a ser passa-dor, mensageiro da morte e do fracasso. Perde a vida na modalidade bios para ficar remetido à vida nua, na modalidade zoé. Mais ainda, perde o laço identificatório dos semelhantes para consigo, sua solidariedade, pois tendem a recuar diante do horror, tal, como veremos, foi abordado por Agamben através da figura do “mulçumano”.

De modos diversos, os autores convergem para demonstrar como esse efeito subjetivo é parte da estratégia do poder que abala a potência da experiência compartilhada que escreveria a história do sujeito e da comunidade, lançando o sujeito aparentemente fora da política, remetido à vida nua à sua modalidade puramente biológica.

Em seu livro Lo que queda de Auschwitz, Agamben apresenta a figura do “mulçumano” – nome que designava os mortos-vivos nos campos de concentração, emblemática do estado-limite a que chegaram algumas pessoas e que pode expressar uma alegoria da condição de exclusão. A partir dessas considerações pudemos pensar que a condição desse muçulmano de “não poder não recordar” faz pensar em um impedimento do esquecimento, do recalque necessário para separar-se do acontecimento. O excesso de consistência do acontecimento lança o sujeito num monótono e desesperador presente.

Para recompor um lugar discursivo, para que se faça laço social, é preciso re-construir a história perdida na memória, re-construção que já implica uma deformação, permitindo o luto e uma resposta à ficção, uma reinterpretação do passado. Consideramos que concebidas assim, infância e experiência constituem pressupostos éticos que transcendem o campo ideológico, dizendo respeito antes ao domínio da política (o laço com os outros) e da cultura (a relação ao Outro). Talvez, com Zizek, referindo-se à ética da psicanálise, possamos considerar que: “É preciso arriscar e decidir…. Não busque apoio em nenhuma forma de Outro maiúsculo — mesmo que esse Outro maiúsculo seja totalmente vazio. É preciso arriscar o ato sem garantias. Nesse sentido, o fundamento supremo da ética é político”. Aqui se subverte a relação que empalidece a política em face da ética ou que inverte onde a ética dá fundamento à política. Ele diz que: “Em Lacan, a ética despolitizada é uma traição ética, porque significa confiança em alguma imagem do grande Outro. Mas o ato lacaniano é, precisamente, o ato em que se presume que não existe grande Outro”.

Passar por acontecimentos em relação aos quais não se tem a menor possibilidade de reconhecimento, pois se passa ao largo do imaginável ou imaginarizável, leva a novo impasse ético e clínico. É um impasse que implica, diferentemente de outras situações clínicas, não a responsabilização do sujeito, mas o seu rompimento com esse campo simbólico; não o assentimento subjetivo relativo a sua participação nos eventos, mas a supressão de qualquer participação nesse gozo. Este é um ponto que distingue a direção do tratamento e exige outros dispositivos para além da clínica do sintoma.

A partir dessas considerações pode-se conceber um trabalho clínico que possibilite a construção da posição de testemunha, transmissora da cultura, como diz Hassoun, que componha a trama ficcional pela elaboração não-toda do luto impossível de significar, na transformação do trauma em experiência compartilhada.
Restituir um campo mínimo de significantes que possam circular, referidos ao campo do Outro, permite ao sujeito localizar-se e poder dar valor e sentido à sua experiência, articulando um apelo que o retire do silenciamento. Está em jogo não somente a reconstituição narcísica de sua imagem, mas também a recomposição do lugar a partir do qual se vê amável para o Outro (ideal do eu), reafirmando uma posição que lhe permita localizar-se no mundo e estabelecer laços sociais, inclusive os analíticos.

Tais práticas passam pela elaboração coletiva do trauma criando condições de, através da recuperação da história social e política, da explicitação das distorções, omissões dos interesses e poderes em jogo, proceder a alterações do campo imaginário e simbólico em que o sujeito possa se situar em uma história, reconstituindo o campo ficcional.

Lacan, discutindo sobre Hamlet, oferece a base teórica para tratar da perda que, rejeitada no simbólico, reaparece no real. Destaca a dimensão ritual e coletiva como precondição à elaboração individual do luto. Diz: “Os ritos são a intervenção maciça de todo jogo simbólico que clama a memória dos mortos. O trabalho de luto realiza-se no coletivo, na comunidade. É uma satisfação dada ao que se produz de desordem em razão da insuficiência dos significantes para fazer face ao buraco criado na existência” (Lacan, 1958-1959, inédito).
Para tratar o trauma provocado pela intervenção do Outro totalitário que tenta apagar todas as marcas da subjetividade é necessária uma elaboração que finque suas bases na reconstituição das leis que norteiam o funcionamento do campo social. Por essa razão sustentamos que todo fenômeno social traumático deve ser inscrito e elaborado no nível coletivo, sem desmerecer as respostas singulares.

A clínica do traumático lança desafios e exige intervenções não-convencionais, que caracterizamos como uma prática psicanalítica clínico-política, para abordar a questão da angústia e do luto em sua face política, ou seja, considerando a produção sócio-política da angústia e os processos de impedimento dos processos subjetivos do luto.

Essas precondições podem ser realizadas na clínica estrito senso ou através de práticas coletivas que permitam a produção de um ato que toca dimensões do real, simbólico e imaginário, contornando e significando aquilo que, por vezes, é negado socialmente. Só então pode ser possível desidentificar o acontecimento, para que este trace um futuro para todos e se torne um emblema cultural.

A posição do analista

A oferta de uma escuta que “supõe romper barreiras e resgatar a experiência compartilhada com o outro deve ser uma escuta como testemunho e resgate da memória.”. Uma escuta em que se utiliza a presença e a palavra. Uma presença em que o analista é convocado a suportar e servir de mola ao relançamento das significações. Em nossa clínica, a “presença da palavra” que se suporta pela “presença do analista” ocorre na diversidade das intervenções: em atividades grupais sobre várias temáticas, em oficinas de português, em escutas singulares, e na publicização dos acontecimentos e conflitos nas instituições e vida social.
A clínica do traumático convoca o analista a tencionar um espaço entre enunciado e enunciação, abrindo espaço para a fala, dizer “diga mais” e, a partir daí poderem se instalar as condições necessárias para a localização subjetiva.

A posição do analista assim é destacada por Berta [5]:
A partir de Lacan, proponho ler esta ‘pressão’, a respeito daquilo que funda no discurso analítico — sua ética: o Desejo do Analista. O analista, além de oferecer sua presença como implicação de escuta, além de decifrar o desejo como desejo do Outro, deve, mantendo seu desejo em x, ser suporte desse objeto, promovendo assim a resposta do analisado a esse enigma, ‘o que se põe em ato’ que convoca a presentificação da pulsão. “Se a transferência é aquilo que da pulsão separa a demanda, o desejo do analista é aquilo que a leva de volta à pulsão (5).

Essa é uma posição pela qual se paga, alerta Lacan [10]:

[…] pagar com palavras, sem dúvida, se a transmutação que elas sofrem pela operação analítica as eleva a efeito de interpretação;
[…] pagar também com sua pessoa, na medida em que, haja o que houver, ele a empresta como suporte aos fenômenos singulares que a análise descobriu na transferência;
[…] pagar com o essencial em seu juízo mais íntimo, para intervir numa ação que vai ao cerne de seu ser.

Apresentamos o trabalho e a elaboração de uma prática psicanalítica que contribui para emergência de um sujeito que se separa da ordenação vigente que o sacrifica, para este comparecer como quem questiona essa ordem e se movimenta criando ações de transformação; nessa dimensão, é reconhecendo-se como falta-a-ser que a alteridade, a diferença, não é significada como ameaça, mas como encontro, com o qual se faz o novo.

4. Objetivos e Metodologia do Grupo Veredas

O Grupo Veredas visa sedimentar clínica e teoricamente os aspectos inerentes aos imigrantes migrantes e refugiados em situação de conflito social e político, recém-chegados ao lugar de acolhimento. Este projeto dá continuidade aos estudos e pesquisas sobre intervenções clínicas em contextos sociais em crise social e/ou política.

Temos larga experiência, particularmente com os usuários da “Casa do Migrante”. Nesse local de acolhimento verifica-se a dificuldade de se ambientarem e se locomoverem na cidade em que moram, com tendência à introversão e ao isolamento social que acentuam profundos sentimentos de desvalia e desamparo, causando grandes prejuízos na própria capacidade de constituir novos laços sociais.

Os fenômenos de desenraizamento e segregação provocam sérios problemas na identidade das pessoas. Na clínica se constata que, como efeitos dos mesmos, surgem estados de padecimento psíquico que vão desde o isolamento, passando por estados depressivos, doenças psicossomáticas e fenômenos melancólicos, entre outros. As pesquisas realizadas pelas equipes que trabalham com migração convergem na seguinte articulação conceitual: a perda de referentes simbólicos oriundos da história e das marcas simbólicas de cada grupo social provoca nos indivíduos um estado de desconhecimento e de despersonalização, bem como todos os fenômenos característicos do luto.

O Projeto tem como objetivos implantar e desenvolver intervenções institucionais, psicossociais e clínicas que conduzam a um trabalho de elaboração de lutos, bem como promover a inserção social dos imigrantes, migrantes, refugiados na cidade de São Paulo. Pretendemos estabelecer espaços de intervenções com essa população, visando elaborações singulares e grupais sobre os fenômenos de exclusão e segregação, apontando as diferentes possibilidades de re-constituição de laços sociais, e favorecendo os vínculos afetivos e de trabalho.

Com a experiência desenvolvida em anos de trabalho com essa população, este projeto visa também planejar e implementar um serviço ou atividades de atendimento e intervenção junto a imigrantes no Instituto de Psicologia, para a população e para os estudantes estrangeiros da Universidade.

Os objetivos específicos do Grupo são:

  • Desenvolver um trabalho efetivo para possibilitar o processo de revisar e elaborar formas de viver os “novos contextos”. Dessa forma, imigrantes, migrantes, refugiados e “retornados”, revisando e rememorando suas histórias e acidentes de vida, podem conseguir elabora o luto do exílio, e constituir vínculos afetivos com a cidade.
  • Estudar a viabilidade de implementar um serviço ou atividades de atendimento e intervenção junto a imigrantes em outras instituições.
  • Fomentar a formação de psicólogos e psicanalistas no atendimento em situações de urgência social
  • Organizar formas de dar visibilidade às questões da imigração e refúgio.

Metodologia

A metodologia do presente projeto reflete resultado dos projetos anteriores que permitiram elaborar um lugar ao trabalho desenvolvido, nomeado de intervenções psicanalíticas clínico-políticas. Trata-se de campo epistemológico ético e político que leva em conta as especificidades dos sujeitos e as vicissitudes de suas demandas em contextos de exclusão e violência e que abre inúmeras questões; é a prática psicanalítica possível junto àquelas pessoas que passam por experiências de trauma e luto ─muitas vezes impedido ou negado─, provocadas por situações sócio-políticas ou econômicas insustentáveis.

Finalmente, o projeto concebeu três diretrizes metodológicas para o trabalho de intervenção:

  • Eixo clínico: A prática desenvolvida tem como seu eixo uma clínica implicada, ou seja, a ação do psicólogo-psicanalista se orienta pela dimensão clínico-institucional-política. Esses três aspectos não se dissociam e no ato da escuta ???ele pode ser considerado. Assim, pautamo-nos pela escuta e intervenção que procura superar a noção psicologizante do sofrimento, cujo corolário é a perspectiva individualista e despolitizada do sofrimento, que não é considerado em sua relação com a cultura e o mal-estar, mas procurado no mais íntimo, fora da cultura ou sem ela. Esse eixo enfatiza a escuta, a transferência e a resistência do analista. Parte da polissemia da demanda institucional e, por vezes, da falta desta última e aborda os fenômenos no contextos e fronteiras.
  • Eixo institucional: O reconhecimento do território se dará através de:
  • (i) levantamento dos recursos do território nas áreas de saúde, moradia, assistência, educação, jurídica, culturais, ONGs e outras, caso em que o diálogo com a assistente social da casa é fundamental, pois ela pode indicar o que já tem em relação a levantamentos e contatos.
  • (ii) organização de uma agenda de visitas com o objetivo de construir parcerias para o trabalho e abrir fronteiras na relação com os migrantes e imigrantes na região e na cidade. Também o diálogo com a assistente social é muito importante para o trabalho de parceria, apontando para a parceria também internamente a casa.
  • Eixo político: perpassa os anteriores e seus impasses, pois considera os caminhos possíveis ou impedidos na cidade, âmbito em que falamos do exercício da cidadania contraposta à exclusão.

Por fim, o Grupo constrói, a partir dessas referências teóricas, clínicas, metodológicas e políticas, atividades e práticas clínico-políticas considerando as instituições e ou posição dos sujeitos no laço social.

1 Rosa, Miriam Debieux, & Domingues, Eliane. (2010). O método na pesquisa psicanalítica de fenômenos sociais e políticos: a utilização da entrevista e da observação. Psicologia & Sociedade22(1), 180-188. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822010000100021